«O cometa de Halley, aparecido em Maio de 1910, sobressaltou muita gente, por se ter espalhado, não só em Portugal, como também em França e noutros países cultos, que êle chocaria com a Terra, e a destruiria. No semanário O Distrito de Leiria (n.º1460, de 19-Março-1910) veio reproduzida a notícia transmitida num telegrama de Budapest para a Gazeta de Francfort, segundo o qual um abastado proprietário húngaro, Adam Tomás, se suicidara com um tiro na cabeça, deixando uma carta em que dizia: «Visto anunciar-se que a passagem do cometa de Halley trará a morte a todo o género humano, prefiro matar-me já a ser morto pelo terrível cometa que se espera.» No nosso país o susto atingiu tais proporções que a Academia de Sciências de Portugal julgou conveniente, para sossegar os ânimos, fazer ao país uma comunicação, que terminava assim: «A Academia de Sciências de Portugal não pode deixar de protestar contra os abusos de credulidade popular, tendentes a cultivar o alarme geral, e que só poderiam perdoar-se quando fundamentados na ignorância, o que, nem por isso, deixaria de ser altamente lamentável e profundamente triste.» O cometa de Halley não chocou com a Terra, mas, meses depois da sua exibição, e ainda no mesmo ano, surgiu, a alimentar a crença supersticiosa de alguns, a implantação do regimen republicano em Portugal, acontecimento que - bom ou mau, conforme os paladares - sempre foi uma revolução sensacional e retumbante.»
escrito por José Maria Adrião, na Revista Lusitana XXVI
http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/26/lusitana26.html
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